
Nada de grandes feitos, nada de muito (muito) diferente. Ontem decidimos atravessar o rio e ir até ali ao distrito de Coimbra para uma noite de fados (de Lisboa), e damo-nos conta que em possivelmente setenta a setenta e cinco por cento das nossas saídas, houve fado. Mas partilhar experiências, vivências e emoções não é nada fácil. E no entanto, eu quero beber do teu olhar, ver tudo com as tuas mãos, respirar as coisas diante de mim com a tua sensibilidade. A verdade é que oiço com a minha imaginação cada uma daquelas cantigas, e onde o fadista prolonga a voz com uma virgula repenicada, reina no meu coração o silêncio das guitarras e o trinar da melodia. Não importa a voz, importa o sentimento, e a prova disso é que o cantor tinha uma voz estonteante (qual Luciano Pavarotti), assim ao jeito dos fados de Coimbra, mas a técnica com que se preocupava a cantar não o deixavam - pareceu-me - sentir o que estava a fazer. Mas se o artista não consegue passar sentimento ao seu público não é por isso que deixamos de aproveitar o encanto que é a música ao vivo, com mais ou com menos esforço. É certo que quem canta não tem de corresponder ao modo como cada um sente. Ele será sempre - apenas e só - um intérprete de um poema e de uma música, e a música é quase sempre muito mais do que isso. Sei que também pensas assim. Sei porque estou ali, ao teu lado, e como que oiço os teus comentários quando olhamos um para o outro. E gosto tanto de ali estar. De nada havia de me valer um grande espectáculo, numa sala nobre, se a minha companhia não fosse a tua, e se não tivesses o modo de ser e o modo de estar que te conheço. Mas desta vez foi especialmente tranquilizante, promissor, estimulante, desafiante, e nada disto deixou de ser partilhado!
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