"- E que somos nós? - exclamou Ega. - Que temos nós sido desde o colégio, desde o exame de latim? Românticos: isto é, indivíduos inferiores que se governam na vida pelo sentimento, e não pela razão..."
Os Maias

domingo, 3 de julho de 2011

Não sou ateniense nem grego

Não sou nem ateniense, nem grego,
mas sim um cidadão do mundo.
                                          Sócrates

No outro dia, por alturas do 25 de Abril, ouvi Otelo Saraiva de Carvalho admitir com todas as letras que se soubesse como o país ia ficar actualmente, não teria realizado o 25 de Abril. Fiquei preocupada. Mas como sempre, uma simples frase apanhada do ar quase nunca quer dizer aquilo que parece. Uns dias depois em novo tempo de antena explicou afinal, que aquilo em que ele acreditava e ainda hoje gostaria de ver realizada era uma democracia directa. Daí a sua desilusão. Pois. Democracia directa. Abaixo a pobreza... Voz ao povo... Poder para todos nós!
A verdade é que quando se tenta dar a voz a todos, nenhuma voz se faz ouvir. Quando todos podem mandar, ninguém manda nada. O pessoal gosta é de divagar, mandar bitaites, fazer pela sua vidinha, e muito raramente alguém gosta de decidir o seu próprio destino. Quanto mais o dos outros... Bastará pensar em experiências simples de democracia directa. Na maior parte das vezes são uma perda de tempo, de eficiência. Se perguntarmos a uma turma como vamos dar hoje a matéria, que resultado vamos obter? Se nos juntarmos com um grupo de 50 pessoas e dissermos "vamos fazer um convívio?", a discussão pode durar mais de vinte minutos (sendo optimista), atendendo à exposição dos motivos pessoais de quem se quiser pronunciar sobre o assunto. Sim, porque haverá sempre os mais tímidos que preferem que os outros falem por eles. Como na política, aqueles que preferem ficar alheados de tudo, como se nada lhes dissesse respeito. Depressa surgem intervenções de quem quer impor a sua 'ditadura', do género "Eu não poderei estar presente, porque não me vai dar jeito nenhum, logo, acho que não deve existir convívio para ninguém". Passado o tempo de discussão, decide-se: Faz-se um convívio, aberto a todos, e vai quem quiser! Alguém decide. Decide por todos. E bem! E se perguntarmos "Como fazer o convivio?" As mesmas 50 pessoas são então capazes de se debruçar sobre o assunto, mas alguém terá que decidir. É por estas e por outras razões que entendo que a democracia tem limites. Já defendia a Manuela Ferreira Leite, ou por momentos lhe passou pela cabeça, uma suspensão da democracia, e que na verdade isto em meia dúzia de meses a coisa resolvia-se! Na verdade, a suspensão da democracia está aí, no terreno, mas talvez por um período mais prolongado, com as medidas do FMI, e nem por isso há qualquer legitimidade representativa com a qual Portugal se identifique. Mas a democracia é isto. Democracia é aceitar que 28% de portugueses tenham votado PS, estando conscientes que se todos o fizessem, José Sócrates continuava no poder. Democracia é haver portugueses que, conscientemente, preferiam José Sócrates ao poder porque "sim, ele é vigarista, mas pelo menos a ele já o conhecemos" /!\. No entanto, essas pessoas fizeram-se ouvir, na percentagem devida, é certo.
De resto, toda a gente sabe que o pior que há é o fundamentalismo, o radicalismo de posições, sejam elas quais forem. No socialismo. Na religião. Na democracia. É por isso que eu abomino qualquer posição, ou mesmo uma opinião levada ao extremo e acho que a democracia tem limites.
Em suma, e sem levar a sério as minhas próprias palavras... A Democracia nasceu em Atenas e hoje a Grécia está como está...

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