"- E que somos nós? - exclamou Ega. - Que temos nós sido desde o colégio, desde o exame de latim? Românticos: isto é, indivíduos inferiores que se governam na vida pelo sentimento, e não pela razão..."
Os Maias

quinta-feira, 27 de maio de 2010

"yes I know how lonely life can be"

Foto: Luiz Fernando Rodrigues Leite (www.olhares.aeiou.pt)

A vida é feita de muitas coisas muito boas (sendo que, como toda a gente sabe, as coisas que realmente importam na vida nem sequer são coisas...) e de vez em quando é feita de tropeços, sonhos, algumas pancadas momentâneas, e de pequenos imaginários que no nosso dia-a-dia vamos criando.
Porque a mente não pára, e precisamos sempre de novos motivos de distracção dos compromissos, de abstracção das responsabilidades. No banho, no autocarro, no meio da rua, a cozinhar, a dormir... a minha cabeça não pára! E há-de ser de certeza num desses momentos de descontracção que me surgirá, por exemplo, um tema de tese brilhante. Tenho a certeza.

É que a simplicidade de tomar banho, andar de autocarro, passear na rua, cozinhar, dormir e todas essas coisas que ocupam o nosso tempo não são menos brilhantes, estou em crer, se as fizermos com alegria, ainda que não as possamos fazer com companhia. E hoje estou especialmente contente, porque fiz a minha primeira sopa de peixe e correu bem. Já tinha dito algumas vezes... não sei fazer sopa de peixe... não sei?! Hoje decidi acabar com este que já era para mim um bloqueio mental, e partir de agora farei muitas mais. Aliás, faz muito mais sentido haver peixe na sopa, para além dos legumes, porque fica bem mais saborosa e contém as proteínas do peixe de uma forma sublime, que nem sequer dá trabalho a comer. E é  mesmo peixe!! (eu não sei cozinhar peixe como deve ser, outro bloqueio). Não levou muitos ingredientes mas depois de a provar, adorei o resultado. Faltaram-me os coentros, e talvez um bocadinho de tomate, mas esta foi só a primeira.

Mas não foi, afinal, nada disto que me levou a escrever. Falava das coisas simples da vida. As coisas que sabem muito melhor acompanhados, mas que na maior parte das vezes têm que ser feitas sozinhos, connosco próprios. Há momentos que a vida me entrega a mim mesma e põe à prova as minhas capacidades. Provoca os meus sentimentos. Ateia a minha revolta. Sozinhos podemos descobrir muitas coisas, com toda a lucidez e seriedade que nos é permitido. Sozinhos podemos imaginar, desejar, inventar, idealizar, sonhar, criar... e cair na realidade certamente mais felizes, e pelo menos com mais certezas daquilo que nos falta.

A minha pancada nos últimos tempos é pelo homem da guitarra, pelas músicas e letras do homem da guitarra. Fica aqui mais uma para ouvir, em jeito de catarse. São estas pequenas composições que apenas traduzem na mente dos médios aquilo que os génios conseguiram expressar. (E já é uma grande coisa...)


And I love you so  (...)
And you love me too.

 Don McLean - And I Love You So (1976)

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