
Hoje vi-te. Olhei para ti verdadeiramente. Apareceste de repente, já noite, mas não te soube dar a devida atenção. Quando os problemas nos absorvem, o raciocínio fica prejudicado pela maneira egoísta e pobre como olhamos para o que nos rodeia, mesmo que isso possa ser a coisa mais importante que temos na nossa vida. Que interessa isso quando, absortos, nada mais existe senão o mundinho de pluri-evidências, nas quais pensar e repensar já não leva a porto nenhum. A verdade é que há momentos em que devemos estar sozinhos e em que o confronto com o outro - quem quer que seja - não nos favorece. Pelo contrário, de mim falo, elevam mentalmente cada defeito, cada preocupação, e para minha revolta, aumentam o volume de cada suspiro de que tenho vontade. Se abrir a boca, o que nestes momentos se torna um esforço imenso, e até uma busca de respostas simples a perguntas simples, será certamente para lamentar-me, como se o outro não estivesse ali, sendo que o mais certo é remeter-me ao silêncio pesado que sei que o meu rosto carrega. O diálogo que possa estabelecer-se então, não deve conter mais do que uma ideia - uma ideia simples - de cada vez, para que eu me matenha paciênte, e para que o meu espírito não se distraia comigo própria. Inevitávelmente, fico impaciente e nervosa. E tu estás ali, e não te vais embora sem que eu te diga que podemos ir. Quando fico sozinha percebo que te podia ter dado mais um beijo, e que talvez isso chegasse para te consolar - a ti e a mim. Não consegui ser coerente, nem consigo parecê-lo, quando penso e várias coisas ao mesmo tempo, sem que nenhuma delas seja o momento que nos está a acontecer.
Não te vi, na verdade.
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