"- E que somos nós? - exclamou Ega. - Que temos nós sido desde o colégio, desde o exame de latim? Românticos: isto é, indivíduos inferiores que se governam na vida pelo sentimento, e não pela razão..."
Os Maias

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Festa na aldeia

Porque uma partilha não bastou, não resisti a publicar isto no meu blogue:


"Vêm aí os meus filhos! Ai nem durmo… Deus os traga em segurança! 
O meu neto ontem falou comigo ao telefone e mal o percebi, ele mistura o francês com o português e é cá uma salsada! Mas percebi que está feliz por vir ver
 a avó e vir divertir-se cá para a aldeia… e até me pediu arroz de couve! Tão lindo…
A minha filha está em pulgas para chegar e só diz: “- Mãe está quase!”
O outro meu filho, o Carlos, está em Lisboa e esse chega mais rápido e vem cá mais vezes. Ainda ontem os irmãos diziam que ele agora tem outra mulher… ai ai, lá para Lisboa trocam de mulher como quem troca de camisa e este meu Carlos então é cá um atiradiço! Mas quem ele trouxer será bem recebido, desde que o faça feliz…
Que Deus os traga em segurança! É só o que peço! A festa este ano até nem vai ser lá muito forte, os mordomos dizem que somos cada vez menos e as pessoas pagam pouco para a festa, ainda por cima com esta crise, mas só o cheiro da festa já chega! As novenas, as ruas iluminadas, a criançada a gritar rua fora, a procissão e o cheiro a cabrito assado é uma maravilha! A aldeia ganha vida e nós também!
Uma banda de música faz sempre falta, mas hoje gastam o dinheiro todo com o fogo-de-artifício… e às vezes em vez de música para dançar trazem aqueles conjuntos que só fazem barulho! E a minha cabeça já não aguenta aquele barulho todo! Mas é tão bom estar em festa e celebrar o regresso dos filhos à terra… é tão bom dar um pé de dança… o meu Manel, Deus o tenha, é que dançava bem! Mas com as amigas e com a família também vai!
Eles estão lá para fora para governar a vida, bem sei, mas custa tanto ficar aqui sozinha… O que me vale é o telefone! A minha Sandra liga todas as semanas! E agora tem lá aquela coisa da internet e fala com os irmãos a toda a hora! Até põe fotos da comida e do meu neto a brincar! Primeiro sem o telefone ficávamos sem nada, agora estão sempre a falar a toda a hora! E dizem que é de graça… Não percebo nada desta coisa da net mas que dá cá um jeitaço para acalmar o coração, dá!
Mas melhor que a internet e o telefone são mesmo os abraços dos filhos e a casa cheia de gente, e isso ninguém nem nada consegue substituir!
Meu ricos filhos, voltem rápido que a festa vai começar! E eu estou morta por vos abraçar!
Viva a festa!"

Foto: Rui Pires
Texto: Paulo Costa

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